O tempo é um pouco como uma peça de fruta: quando até nos está a saber bem, falta sempre mais um bocadinho. Quando temos que sobre, fica sempre a apodrecer na prateleira...
Devíamos começar a congelar o tempo, como fazem nos supermercados hoje em dia...
Monday, October 24, 2011
Monday, September 19, 2011
O dia em que o padeiro fechou.
Escuro. Apenas um vazio escuro. Era tudo quanto conseguia ver, por entre os grãos de poeira ensolarados da montra. Prateleiras vazias de pão, mas, como sempre, cheias da característica neve trigueira. Os sacos brancos, de uma alvura desconhecida deste tempo presente, a adornar os agora enormes cestos de viga.
Um cheiro a lembrança ainda paira no ar cá fora. Mas nada mais lembra a pão lá dentro. Aquela magia que alimenta, aqueles sabores que salvam almas perdidas em náufrago. Aquelas memórias de um ouro macio a derreter lentamente, como um fim de dia sobre uma estrada paciente....
Tudo isto desaparece lentamente. Pedaço a pedaço. Mas sem aquela insubstituível névoa que emerge a ferver quando abria a minha alma a um acto social tão sagrado e familiar, como o que tantas vezes me fez acordar a hora inumanas, a seguir em directas só com objectivo, a partilhar ideias, emoções, segredos...
"Terá acontecido algo?" Sem resposta, tento mais uma vez. Numa teimosia saudável, tão humana, tão minha. Sem sucesso. De relance, tento enganar a sombra com um soslaio mais rápido que a velocidade da cusquice, mas nada, novamente.
A manhã perde a alegria com esta constatação. O pequeno-almoço perde dimensão. O dia perde luz. Bom, não é que perca a luminosidade, como parece acontecer em certas cidades onde as paredes absorvem a luz e transformam-na em sombra. Não. É mais como se a própria luz perdesse a sua alegria, as suas cores. A sua dimensão, torna-se mais "achatada". Mas sem se perder de si própria. Só de mim. Um pouquinho. Só...
O regresso, agora menos marcado por aquela ânsia tão deliciosa e matinal, faz-se sem sobressaltos. Um pouco mais contemplativo. Não sei bem explicar porquê. "Faz-se", por assim dizer.
E, num momento indistinto, tudo parece ter mudado no mundo. E o mundo parece ter decidido mudar sem nós.
Foi assim que me senti, nesse dia.
No dia em que o padeiro fechou.
Um cheiro a lembrança ainda paira no ar cá fora. Mas nada mais lembra a pão lá dentro. Aquela magia que alimenta, aqueles sabores que salvam almas perdidas em náufrago. Aquelas memórias de um ouro macio a derreter lentamente, como um fim de dia sobre uma estrada paciente....
Tudo isto desaparece lentamente. Pedaço a pedaço. Mas sem aquela insubstituível névoa que emerge a ferver quando abria a minha alma a um acto social tão sagrado e familiar, como o que tantas vezes me fez acordar a hora inumanas, a seguir em directas só com objectivo, a partilhar ideias, emoções, segredos...
"Terá acontecido algo?" Sem resposta, tento mais uma vez. Numa teimosia saudável, tão humana, tão minha. Sem sucesso. De relance, tento enganar a sombra com um soslaio mais rápido que a velocidade da cusquice, mas nada, novamente.
A manhã perde a alegria com esta constatação. O pequeno-almoço perde dimensão. O dia perde luz. Bom, não é que perca a luminosidade, como parece acontecer em certas cidades onde as paredes absorvem a luz e transformam-na em sombra. Não. É mais como se a própria luz perdesse a sua alegria, as suas cores. A sua dimensão, torna-se mais "achatada". Mas sem se perder de si própria. Só de mim. Um pouquinho. Só...
O regresso, agora menos marcado por aquela ânsia tão deliciosa e matinal, faz-se sem sobressaltos. Um pouco mais contemplativo. Não sei bem explicar porquê. "Faz-se", por assim dizer.
E, num momento indistinto, tudo parece ter mudado no mundo. E o mundo parece ter decidido mudar sem nós.
Foi assim que me senti, nesse dia.
No dia em que o padeiro fechou.
Friday, September 16, 2011
Estrada de fogo
E hoje, uma vez mais, dei por mim a descer essa estrada de fogo. Sentindo o toque metálico como se fosse descalço ... Quente. Pegajoso. Doloroso. Viciante. Agora faz parte de mim. Ou antes - penso - farei eu parte "dele". Ele? Entranha-se em mim, gera-se um desapego, uma completa abnegação do "eu" e entrego-me a um reflexo. A uma miragem etérea, vinda bem do fundo das minhas lembranças, existência incerta, gerada no ar aquecido pelos tempos... Desertos, oásis sem fim...
O gotejar do meu suor acorda-me. Desperta-me deste marasmo delicioso, onde tantas vezes me deixo ir. A descer uma estrada de fogo. Onde sinto o seu suave toque metálico que queima e faz parte de mim.
O gotejar do meu suor acorda-me. Desperta-me deste marasmo delicioso, onde tantas vezes me deixo ir. A descer uma estrada de fogo. Onde sinto o seu suave toque metálico que queima e faz parte de mim.
Sexopolis
Olhando para a cidade, deste ponto mais elevado, consegui perceber os seus tons dourados, de semelhança gémea às lembranças outonais... Da estrada elevava-se um som, um rumor... Daquele tipo que desperta sentimentos, que levam a outros sentimentos e lembranças de um sexo animal... O rubor começa a fervilhar, ao de leve na minha pele. E esta agora já não é minha. É uma pele, outra que não a que tenho. É minha, mas não só.... É uma estrada, daquelas que nos conduz a sonhos, memórias... Num serpentear que me faz embala, entorpece, mas faz vibrar... Num êngodo de curva, num manejo de corpos. O corpo curvado ao desejo dos tempos... Escuta... http://youtu.be/a93_5AXZx18 Ele não pára por aqui.... Eleva-se. E volta a descer... Até nós. De novo. A nós o que é de todos. A todos o que sinto agora... E o que sinto é o meu corpo a retorcer-se. A minha mandinga vem ao de cima, o meu rebolejo anseia por se libertar... Deliro numa visão de fogo, suo um calor que vem de sempre, de dentro... Penso se não o terei herdado de uma fogosa noite, perdida lá longe no éter de uma celebração bem libertina. Pergunto-me se não será reflexo de um fulgor de sexo, que desce geneticamente nas longas e sinuosas escadas de uma muito particular construção geneticamente assombroso, ao bom estilo de Gaudi ou de uma tão fornicada Guernica. Lembranças de guerra... guerras de suor, de sangue... e muita, mas muita degustação corporal... Que sentimento de posse! Que vingança mais gulosa, com tão doce-azedo travo a vergonha... Mil línguas, num lânguido e manipuloso sibilar de curvas... de altos... de baixos... tanto por fora... e bem, bem dentro...... Mil suores, mil fluídos, mil engolidos, mil.... Que cor. Que vibrar. O reflexo do suor. O teu olhar.
É uma estrada. Uma estrada com um rumor que emerge. Um rumor que é dourado, vermelho, que é sangue. E que faz lembrar... http://youtu.be/rg3IY2A_f70 O Outono chegou.
É uma estrada. Uma estrada com um rumor que emerge. Um rumor que é dourado, vermelho, que é sangue. E que faz lembrar... http://youtu.be/rg3IY2A_f70 O Outono chegou.
Tuesday, September 06, 2011
Prenuncio de chuva...
Antes, ainda se viam pessoas conhecidas nos carros ao lado do nosso. Rostos familiares, vagamente encontrados em memórias espontâneas, perdidos no tempo e encontrados ali mesmo, ao lado. Mesmo não conhecendo as pessoas de lado algum, elas pareciam pertencer aquele sítio. Faziam sentido ali. Pareciam ser parte daquele momento, instante, espaço.
Hoje em dia, parece que as pessoas são estranhas. Parece que há um país imenso que se cruza em todas as estradas, a qualquer hora do dia, em que o meu lugar de sempre me parece agora tão estranho. Talvez nunca antes tenha olhado para os outros ao meu lado com olhos de ver. Talvez o dia de hoje, sem luz intensa, sem delírios visuais, me tenha deixado ver. Talvez a hora fosse outra, não sei...
Talvez hoje não tivesse aquela (falsa?) sensação de segurança que me cobria e protegia. E que me possibilitava, mesmo sem olhar, ver - ou achar que via - quem estava ao meu lado e sabê-lo instantaneamente, que eram pessoas que faziam parte daquele cenário e que, portanto, não despoletavam alertas no meu organismo tranquilo. Pertenciam ali e ali deveriam estar. Tão simples quanto isso.
Mas quando sem esperar, dei por mim a olhar, vi que as coisas já não eram assim. Eu já não sou o mesmo. O meu país continua cada vez mais cinzento. Os carros mudaram. As memórias vão-se esvanecendo. E o que vejo já não é real. Ou a realidade já não é o que eu quero ver...
Mas quando sem esperar, dei por mim a olhar, vi que as coisas já não eram assim. Eu já não sou o mesmo. O meu país continua cada vez mais cinzento. Os carros mudaram. As memórias vão-se esvanecendo. E o que vejo já não é real. Ou a realidade já não é o que eu quero ver...
Friday, July 29, 2011
O jardim e o gelado.
Tenho saudades dos jardins onde a minha imaginação cresceu. Lembro-me perfeitamente como se o tivesse imaginado ontem: uma retrosaria a céu aberto, de montra da cor do cheiro do ar. Do ar que passa por entre a frágil folhagem que robusta aguenta a melancolia das cores do Outono, do Outono aquela luz que perpassa as crianças que brincam alegres e descontraídas na estrada. Da estrada que calma aguarda as mães que chegam a casa aos fins de tarde, em banhos de Sol moderado no alcatrão curtido pelas poeiras dos tempos, em carros de sonho para corações imaculados pela verdade. De verdades que não chegam bruscas e tempestivas, de pós que aquecem e não se esquecem, dos cheiros e das cores que realmente são.
Os prédios também o são. Verdades altivas e distorcidas pelas ilusões geométricas de linhas paralelas a inclinarem-se precipitada e apaixonadamente para um infinito já ali à frente. Protectoras memórias que em U se juntam, em uníssono escutam e em utópicas partilhas entram. As árvores, sempre presentes, sempre sobranceiras à memória que acolhem dos Sóis que nela giram e iluminam, acompanham os prédios; os prédios que são dessa cor que não sei bem descrever... um tom que se esquece, não por falta de relevância; mas porque as memórias boas são sempre assim - não conseguimos pensar com cor, nem com cheiros, mas lá que eles nos conseguem fazer pensar, lá disso ninguém duvida...
Os barulhos ecoam imaginados num tamborilar de aves, insectos, ares, estrelas e pormenores impossíveis sem fim... As luzes dançam nos tectos da imaginação, projectando nesse céu tão plano, quanto real, de azul sarampeiro profundo, onde coexistem estrelas, neurónios e astros, filmes da infância, de uma transparência a roçar o limite de visibilidade dos olhos da alma...
Passei por esses jardins ontem, olhei e resolvi entrar: entrei nessa loja que faz sonhar, escolhi uma memória gostosa para comprar e sentei-me no banco do jardim a apreciá-la, qual gelado imaginário numa quente noite de Verão.
Thursday, July 28, 2011
Cores primárias
O meu país está cinzento. Com manchas de outros cinzas. 10%. 60%. 30%. As sombras já não o são e não passam de uma recordação. Quem manchou tão lindo preto de uma ligeireza de cão?
O meu país está molhado. Lágrimas ou lá que é. Ou algo mais. De suor é que não. Só lágrimas. Ou então, um suor muito triste. Não, deverão ser lágrimas concerteza. Concerteza que serão!
Serão? Lágrimas, isto é? O que é uma lágrima? A lágrima só o é quando sai do olho? Até lá, já o será? E depois, o que é?
O meu país está diferente. Cheio de gente. Sei lá porque. Muita gente. Fazem barulho. E criam entulho. Daquele, do intelectual. "Coisa e tal". Disso não sei muito, porque não tenho. Sou muito, muito banal.
O meus país está almariado. Pobre coitado. Deve ser do cinto, que aperta até ao osso. Arre cão, que não te dou! Já tiveste muito que comer. Põe-te a andar, senão vais ver!
O meu país cá continua. E eu na roda dentada, à bulha. Sempre a encher. Sempre a complicar. Quem disse que a Rainha ia nua?
O meu país já não "s'alavanta". Mas pra quê? É prá Santa? É que os da casa não fazem milagres, mas que lá os há e muitos há, os alarves.
O meu país já não encanta. E porque é que não há nada que eu consiga querer fazer para colorir isso?
Mas ao menos, o meu país assim já não ilude. E eu já não sonho. Viajo.
O meu país está molhado. Lágrimas ou lá que é. Ou algo mais. De suor é que não. Só lágrimas. Ou então, um suor muito triste. Não, deverão ser lágrimas concerteza. Concerteza que serão!
Serão? Lágrimas, isto é? O que é uma lágrima? A lágrima só o é quando sai do olho? Até lá, já o será? E depois, o que é?
O meu país está diferente. Cheio de gente. Sei lá porque. Muita gente. Fazem barulho. E criam entulho. Daquele, do intelectual. "Coisa e tal". Disso não sei muito, porque não tenho. Sou muito, muito banal.
O meus país está almariado. Pobre coitado. Deve ser do cinto, que aperta até ao osso. Arre cão, que não te dou! Já tiveste muito que comer. Põe-te a andar, senão vais ver!
O meu país cá continua. E eu na roda dentada, à bulha. Sempre a encher. Sempre a complicar. Quem disse que a Rainha ia nua?
O meu país já não "s'alavanta". Mas pra quê? É prá Santa? É que os da casa não fazem milagres, mas que lá os há e muitos há, os alarves.
O meu país já não encanta. E porque é que não há nada que eu consiga querer fazer para colorir isso?
Mas ao menos, o meu país assim já não ilude. E eu já não sonho. Viajo.
No limiar do tempo. No limiar da lembrança.
Agora que (não) penso nisso, fico com a sensação nítida de que o único esforço que eu sempre fiz, o que eu sempre quis mesmo, foi ficar na memória das minhas relações pessoais. E lá permanecer. Apenas.
Tantas vezes preferi desaparecer no meio da noite, como se fosse comprar um maço de cigarros repentino. Como se isso me permitisse nunca mais lá voltar, aquele sufoco que de mim em mim se parecia tornar...
Tantas vezes a neblina das insólitas madrugadas de lá foi minha cúmplice. Tantas vezes me devotei a horas imensas a “imensificar a infinitesimez" desse sentimento, que eu queria que deixasse de existir...
Apenas fugir. Para desaparecer. Sem deixar rasto. Qualquer amostra de rasto emocional, que fosse possível seguir... Tentando sempre não magoar ninguém, fazendo a coisa da forma mais indolor e anestesiada possível. Se é que isso existe.
Agora que penso nisso, talvez tentasse sempre evitar magoar-me apenas a mim, e a mim só.
Só eu. Sim, eu sei...
Agora que (não) penso nisso, fico mesmo com a sensação que tantas vezes me senti egoisticamente ultrapassado nessas memórias (de outros) por outros.
Ultra. Passado. Conotação 1. Passado. Conotação 2. E agora que pensei mesmo nisto, o passado deve ficar no passado. E deve mesmo ser ultrapassado. Porque caso contrário não faz bem e, acto contínuo, faz mal. E tudo o que faz mal deve ser evitado. Não?!
Bem, no meu caso deveria ser "ficar resolvido". Curado.
Dizem que o tempo cura tudo. Mas eu temei em continuar a agarrar com todas as minhas forças o volante desse lento carro que também ele teimava em continuar tresloucado nessa tortuosa vida ladeada de curvas e contra-esperanças, minada de lombas e memórias de violenta brandura, constantemente ultrapassado por aqui e por acolá, por aquela e outra memória também...
Mesmo tratando-se só de memórias, mesmo eu não passando só de uma memória em lá, mesmo sendo tudo aquilo que eu sempre quis, tudo aquilo porque eu sempre me esforcei, porque me custou tanto ao sentir que era substituído por outras memórias, estradas mais recentes, afinal de contas, o natural curso das coisas? Porque abalou tanto a minha estabilidade, a confiança na minha condução das minhas atitudes e actos, sentir que não fui capaz de lá me manter, mesmo que fisicamente houvesse feito tudo o que podia para fugir, ao que se tornara real, para esse plano metafísico? Porque me parecem as minhas próprias emoções tão contraditórias, em si?
Porque terei ficado tão perturbado com a substituição desse meu cantinho em lá por essa actualização do mapa sensorial onde se gravam as emoções e os sentimentos?
E pergunto isto, especialmente porque as memórias são tão indeléveis quanto a capacidade que temos de nos agarrar a elas. Força essa que esmorece com o tempo e com a chegada de outras tantas memórias, mais fortes e cativantes... E porque mais cedo ou mais tarde, algo muda. E algo se perde. Para sempre... Qual rascunho mal desenhado e apagado, deixando apenas uma marca de algo. Indefinido. Perdido por ali. Mas nunca lá...
Afinal de contas, agora que já não me lembro de como se pensa nisso, de que nos serve sofrer agarrados a algo, que até já nos esquecemos o que era? Se o que eventualmente se conserva é a memória muscular, essa elegante maneira que o corpo tem de deixar bem marcada a forma de fazer algo, porque continuamos, então, em piloto automático? Apenas porque o nosso corpo nos guia cegamente por entre acto mecânicos para conseguir ter algo feito, sem sentirmos bem o porque, apenas porque sentimos inconscientemente que tem que ser assim...
Porque é que aqui não conduzo eu, porque me leva agora o meu corpo, num caminho sem volante, nem retrovisor? Sem lombas, nem questões? E de que me serve tudo isso, e de me serviu tanto daquilo, se de uma forma ou de outra, todos caminhamos para Alzheimer? De que nos serve viver?
Talvez viver seja também em si uma memória muscular... e talvez o façamos porque é algo que o nosso corpo se recorda de como fazer, exemplar num rigor ímpar na lembrança, qual máquina programada do início ao fim da eternidade - e de volta ao início -, mesmo quando a mente já não se lembra do motivo porque o faz...
Tantas vezes preferi desaparecer no meio da noite, como se fosse comprar um maço de cigarros repentino. Como se isso me permitisse nunca mais lá voltar, aquele sufoco que de mim em mim se parecia tornar...
Tantas vezes a neblina das insólitas madrugadas de lá foi minha cúmplice. Tantas vezes me devotei a horas imensas a “imensificar a infinitesimez" desse sentimento, que eu queria que deixasse de existir...
Apenas fugir. Para desaparecer. Sem deixar rasto. Qualquer amostra de rasto emocional, que fosse possível seguir... Tentando sempre não magoar ninguém, fazendo a coisa da forma mais indolor e anestesiada possível. Se é que isso existe.
Agora que penso nisso, talvez tentasse sempre evitar magoar-me apenas a mim, e a mim só.
Só eu. Sim, eu sei...
Agora que (não) penso nisso, fico mesmo com a sensação que tantas vezes me senti egoisticamente ultrapassado nessas memórias (de outros) por outros.
Ultra. Passado. Conotação 1. Passado. Conotação 2. E agora que pensei mesmo nisto, o passado deve ficar no passado. E deve mesmo ser ultrapassado. Porque caso contrário não faz bem e, acto contínuo, faz mal. E tudo o que faz mal deve ser evitado. Não?!
Bem, no meu caso deveria ser "ficar resolvido". Curado.
Dizem que o tempo cura tudo. Mas eu temei em continuar a agarrar com todas as minhas forças o volante desse lento carro que também ele teimava em continuar tresloucado nessa tortuosa vida ladeada de curvas e contra-esperanças, minada de lombas e memórias de violenta brandura, constantemente ultrapassado por aqui e por acolá, por aquela e outra memória também...
Mesmo tratando-se só de memórias, mesmo eu não passando só de uma memória em lá, mesmo sendo tudo aquilo que eu sempre quis, tudo aquilo porque eu sempre me esforcei, porque me custou tanto ao sentir que era substituído por outras memórias, estradas mais recentes, afinal de contas, o natural curso das coisas? Porque abalou tanto a minha estabilidade, a confiança na minha condução das minhas atitudes e actos, sentir que não fui capaz de lá me manter, mesmo que fisicamente houvesse feito tudo o que podia para fugir, ao que se tornara real, para esse plano metafísico? Porque me parecem as minhas próprias emoções tão contraditórias, em si?
Porque terei ficado tão perturbado com a substituição desse meu cantinho em lá por essa actualização do mapa sensorial onde se gravam as emoções e os sentimentos?
E pergunto isto, especialmente porque as memórias são tão indeléveis quanto a capacidade que temos de nos agarrar a elas. Força essa que esmorece com o tempo e com a chegada de outras tantas memórias, mais fortes e cativantes... E porque mais cedo ou mais tarde, algo muda. E algo se perde. Para sempre... Qual rascunho mal desenhado e apagado, deixando apenas uma marca de algo. Indefinido. Perdido por ali. Mas nunca lá...
Afinal de contas, agora que já não me lembro de como se pensa nisso, de que nos serve sofrer agarrados a algo, que até já nos esquecemos o que era? Se o que eventualmente se conserva é a memória muscular, essa elegante maneira que o corpo tem de deixar bem marcada a forma de fazer algo, porque continuamos, então, em piloto automático? Apenas porque o nosso corpo nos guia cegamente por entre acto mecânicos para conseguir ter algo feito, sem sentirmos bem o porque, apenas porque sentimos inconscientemente que tem que ser assim...
Porque é que aqui não conduzo eu, porque me leva agora o meu corpo, num caminho sem volante, nem retrovisor? Sem lombas, nem questões? E de que me serve tudo isso, e de me serviu tanto daquilo, se de uma forma ou de outra, todos caminhamos para Alzheimer? De que nos serve viver?
Talvez viver seja também em si uma memória muscular... e talvez o façamos porque é algo que o nosso corpo se recorda de como fazer, exemplar num rigor ímpar na lembrança, qual máquina programada do início ao fim da eternidade - e de volta ao início -, mesmo quando a mente já não se lembra do motivo porque o faz...
wake up..... wake up..... wwwAKE UP!!
Everything within me is slowing down. But my (body's) falling speed isn't....
Gripes e constipações
Vejo o pouco amor-próprio que tenho por mim quando estou doente e faço um chá de limão com mel.... Muito simplesmente, não tem nada a ver com o que tu fazias. O sabor não é o mesmo, os limões que usavas já não crescem nas árvores, apenas em campos na minha imaginação... O mel das tuas abelhas era ímpar na textura, na maneira como deslizava por entre crateras e desejos perdidos no interior do meu ser doente... O aroma tinha sotaque britânico e exotismo típico das Índias perdidas no tempo... O calor era inimaginavelmente vulcanesco, mas, mesmo assim, não queimava...
O chá de limão com mel que eu faço sabe a água com algo dentro. E não cura.
O chá de limão com mel que eu faço não ajuda. Porque o amor com que tu o costumavas adoçar já eu não tenho de sobra para usar...
O chá de limão com mel que eu faço sabe a água com algo dentro. E não cura.
O chá de limão com mel que eu faço não ajuda. Porque o amor com que tu o costumavas adoçar já eu não tenho de sobra para usar...
Thursday, July 21, 2011
Deseperately grabbing shimmering strings of light... (keyboard dispair arc)
E eu sou aquele alguem a tentar desesperadamente suster nas minhas frageis maos as fibras invisiveis que sustentam e dao forma ao Universo, para nao deixar escapar nada, para nao falhar um unico sentimento exclusivo, uma qualquer novidade sensorial, um qualquer suspiro, inspiraçao, algo que me faça sentir vivo...
E eu sou aquele alguem que sofre por nao ter maos suficientes para te poder agarrar a ti, reter-te no meu egoismo, na minha ganancia desmedida, com dedos de despedida.
Porque eu sou aquele alguem que so tem maos para o adeus e que sofre como um deus que a nenhum ceu deu vida...
E eu sou aquele alguem que sofre por nao ter maos suficientes para te poder agarrar a ti, reter-te no meu egoismo, na minha ganancia desmedida, com dedos de despedida.
Porque eu sou aquele alguem que so tem maos para o adeus e que sofre como um deus que a nenhum ceu deu vida...
Tuesday, July 19, 2011
Knock, knock...
"Who's there?!"
So this isn't probably what you would call a last coke in the desert... But, nevertheless, it's a pretty reasonable approach. An in regard to that, concerning me, since it is I who is approaching you in such manner, some people say that i'm intelligent. Some people say that i'm smart. Some people might even say that i'm smart and intelligent. And some people just think i'm plain ol'dumb.
I don't tend to think of myself as special. But i do feel i have something special inside of me. Something that makes me differ from my sibling in kind. Something that burns from within some place i don't know where. Some flame that bursts a gut when i feel strengthless. Some will that arises from an unwilling pain. Some good hunt in a gameless meadow.
"But what makes you different? What is it exactly?!" I don't know. Maybe feeling that i don't know what fuels me, yet knowing that i'm fueled by some love outside this physical space i inhabite... Maybe i'm just your typical junky beat fanatic... Music. I can hear it. Can you hear it? That makes me different. Can you see these colors? Can you taste them in your fingertips? I do. Like cotton-candy. Like a child's memory. Like whem i'm happy.
Who's there?
It's me...
So this isn't probably what you would call a last coke in the desert... But, nevertheless, it's a pretty reasonable approach. An in regard to that, concerning me, since it is I who is approaching you in such manner, some people say that i'm intelligent. Some people say that i'm smart. Some people might even say that i'm smart and intelligent. And some people just think i'm plain ol'dumb.
I don't tend to think of myself as special. But i do feel i have something special inside of me. Something that makes me differ from my sibling in kind. Something that burns from within some place i don't know where. Some flame that bursts a gut when i feel strengthless. Some will that arises from an unwilling pain. Some good hunt in a gameless meadow.
"But what makes you different? What is it exactly?!" I don't know. Maybe feeling that i don't know what fuels me, yet knowing that i'm fueled by some love outside this physical space i inhabite... Maybe i'm just your typical junky beat fanatic... Music. I can hear it. Can you hear it? That makes me different. Can you see these colors? Can you taste them in your fingertips? I do. Like cotton-candy. Like a child's memory. Like whem i'm happy.
Who's there?
It's me...
Monday, July 18, 2011
Uma vez disseste-me... (keyboard dispair arc...)
..."Se nao olhares para o mundo, nao saberas se o mundo esta a olhar para ti..."
Hoje em dia, ja sozinho, dou por mim a olhar para o mundo a procura de algo... Num desespero silencioso, as ruas aparecem-me vazias. Aos meus olhos. Parece que agora, dou por mim a procurar por algo e a nao ver nada. Sem do nem piedade, nessas mesmas ruas, nas ruas para onde "olho", nao vejo sombras, nao vejo cores, nao vejo nada. O vento nao se faz sentir e os meus olhos perdem-se em redor de mim mesmo, num continuo rodopio... Numa especie de torpor doentio, causado por um sol quente e focado em mim... Os meus olhos perdem-se. E fazem-me perder. A espera... Talvez de...
Talvez de apanhar a essencia espiritual que me habituaste a ver... de captar qualquer indicio da tua passagem por ali...
Mas ja nao te encontro. Ali ja nao te encontro. Ja nao andas por ca. Ja nao te vejo dessa forma. Aqui. Ali. Alem. Acola.
Nao te vejo neste mundo que acabou por se tornar meu. Com este Sol que ja nao e amarelo, com esta luz que me e estranha. E, no entanto, ja tao familiar. Sabes como eu sou com a luz, com a luminosidade... Lembras-te bem como era esquisito com as variacoes cromaticas dos ceus que partilhamos. Lembras-te, certo? (estas ai?)
Mas neste mundo tu nao existes mais, e eu agora existo. Vejo-me so. Estou so. E as ruas de outrora ja so existem na minha mente. Tal como tu. E eu, talvez. Vagueiam na minha mente vozes de um dia que ja foi e nao voltara a ser mais outra vez. Ecos de um passado que relembro agora, em olhos presentes num mundo sem o conseguir ver.
Tudo mudou. Mas eu feito miudo mimado continuo a nao ouvir os teus conselhos. So que agora, para ver se te consigo voltar a ver. A mim. Talvez de devesse ter dado ouvidos ao que uma vez me disseste.
Hoje em dia, ja sozinho, dou por mim a olhar para o mundo a procura de algo... Num desespero silencioso, as ruas aparecem-me vazias. Aos meus olhos. Parece que agora, dou por mim a procurar por algo e a nao ver nada. Sem do nem piedade, nessas mesmas ruas, nas ruas para onde "olho", nao vejo sombras, nao vejo cores, nao vejo nada. O vento nao se faz sentir e os meus olhos perdem-se em redor de mim mesmo, num continuo rodopio... Numa especie de torpor doentio, causado por um sol quente e focado em mim... Os meus olhos perdem-se. E fazem-me perder. A espera... Talvez de...
Talvez de apanhar a essencia espiritual que me habituaste a ver... de captar qualquer indicio da tua passagem por ali...
Mas ja nao te encontro. Ali ja nao te encontro. Ja nao andas por ca. Ja nao te vejo dessa forma. Aqui. Ali. Alem. Acola.
Nao te vejo neste mundo que acabou por se tornar meu. Com este Sol que ja nao e amarelo, com esta luz que me e estranha. E, no entanto, ja tao familiar. Sabes como eu sou com a luz, com a luminosidade... Lembras-te bem como era esquisito com as variacoes cromaticas dos ceus que partilhamos. Lembras-te, certo? (estas ai?)
Mas neste mundo tu nao existes mais, e eu agora existo. Vejo-me so. Estou so. E as ruas de outrora ja so existem na minha mente. Tal como tu. E eu, talvez. Vagueiam na minha mente vozes de um dia que ja foi e nao voltara a ser mais outra vez. Ecos de um passado que relembro agora, em olhos presentes num mundo sem o conseguir ver.
Tudo mudou. Mas eu feito miudo mimado continuo a nao ouvir os teus conselhos. So que agora, para ver se te consigo voltar a ver. A mim. Talvez de devesse ter dado ouvidos ao que uma vez me disseste.
Monday, July 04, 2011
9 ºC à minha saída
Nove graus à minha saída. Só 9 ºC para um dia tão grande. Tão pouco e, ainda assim, é o "tanto" a que tenho direito... Entro no carro e só penso nas saudades que lentamente começam a emergir de um Canadá que nunca me lembro de ter conhecido, mas que sei existir dentro de mim. Em sonhos que ecoam de tantos voos que tantas vezes fiz... sempre que me via lá do alto a olhar para mim mesmo cá em baixo, a deixar apenas um ténue rasto de existência atrás de mim, que tão depressa me fazia lá estar, como, de repente, deixava de existir...
E penso no quanto lá queria estar agora, nesse sítio que nunca conheci...
E sinto o que sempre sinto, quando penso em como é possível eu amar alguém que não conheço...
E penso no quanto lá queria estar agora, nesse sítio que nunca conheci...
E sinto o que sempre sinto, quando penso em como é possível eu amar alguém que não conheço...
I smell you, i smell you not
O (meu) mundo está a ficar sem cheiros. Por favor, não te deixes ficar sem cheiros. Preciso deles. Preciso deles para não parar de querer respirar. Para que o amanhã tenha em si uma memória de outrora e continue a ser mais um dia para viver.
São os teus cheiros que me alentam o espírito, combustível que gasto inconscientemente entre viagens mil de nenhures para lado algum... Quero esquecer a crise e poder continuar a viver, por entre esquinas e vielas, sonhos e lapelas, comidas e aromas mais, quero mais, quero ser, quero ter, dá-me a mim, só a mim, por favor... Que os outros não cheiram, não têm narizes bons. Mas eu sim, eu tenho. Porque não o uso para cheirar. Para isso, uso os olhos da alma. E eles vêem-te a esvair. Não te esvaias cheiro meu. Que em mim existes e eu te permitirei continuar a encantar. Mesmo que só em mim existas, em mim serás eterno nas memórias que não esqueci.
http://youtu.be/vNiD93BLCPc
São os teus cheiros que me alentam o espírito, combustível que gasto inconscientemente entre viagens mil de nenhures para lado algum... Quero esquecer a crise e poder continuar a viver, por entre esquinas e vielas, sonhos e lapelas, comidas e aromas mais, quero mais, quero ser, quero ter, dá-me a mim, só a mim, por favor... Que os outros não cheiram, não têm narizes bons. Mas eu sim, eu tenho. Porque não o uso para cheirar. Para isso, uso os olhos da alma. E eles vêem-te a esvair. Não te esvaias cheiro meu. Que em mim existes e eu te permitirei continuar a encantar. Mesmo que só em mim existas, em mim serás eterno nas memórias que não esqueci.
http://youtu.be/vNiD93BLCPc
You want the truth?
Perguntei-me, há tempos, se o medo adviria da verdadeira noção das coisas, da insuportável falta de leveza que a percepção real de algo pode ter em nós, dessa pressão desmesurada que nos afoga lentamente num gargarejo sufocante, que nos purga de toda a vida ou sensação de vida... Que nos oprime sem dó nem piedade, e nos reduz a uma massa compacta e impotente... Expectante e silenciosa...
Ou será que advém do simples facto de, por vezes, sentirmos que não somos capazes de lidar com a verdade? Que, entendo bem, pode estar incluído na própria etimologia da palavra medo, parecendo por isso um pleonasmo; mas que é, muitas das vezes, a razão pela qual o sentimos: por não querermos sequer invadir aquele espaço desconfortável que se instalou em nós, no meio da nossa sala de estar espiritual sem sequer pedir licença, alienígena que melhor me conheces que eu mesmo, e que te alimentas de mim até ao tutano da minha alma sangrada pelos nossos encontros passados.... (http://youtu.be/yVLh0EMx3aA) Por sabermos que a realidade é um bocado de pão seco difícil de engolir. E por sabermos que não há líquido que facilite.... que ajude a digerir...
"You want the truth? You can't handle the truth..."
Ou será que advém do simples facto de, por vezes, sentirmos que não somos capazes de lidar com a verdade? Que, entendo bem, pode estar incluído na própria etimologia da palavra medo, parecendo por isso um pleonasmo; mas que é, muitas das vezes, a razão pela qual o sentimos: por não querermos sequer invadir aquele espaço desconfortável que se instalou em nós, no meio da nossa sala de estar espiritual sem sequer pedir licença, alienígena que melhor me conheces que eu mesmo, e que te alimentas de mim até ao tutano da minha alma sangrada pelos nossos encontros passados.... (http://youtu.be/yVLh0EMx3aA) Por sabermos que a realidade é um bocado de pão seco difícil de engolir. E por sabermos que não há líquido que facilite.... que ajude a digerir...
"You want the truth? You can't handle the truth..."
Thursday, June 30, 2011
Fé
As minhas boas acções começam a compensar. Mais do que as minhas acções em geral e para desconhecidos em particular.
E eu pergunto-me se não será esta a altura certa para agir e fazer algo ... A concretizar algo. De valor. Para ficar.
Talvez só precise de um pouco de ... Sim... Só preciso de um pouco de....
E eu pergunto-me se não será esta a altura certa para agir e fazer algo ... A concretizar algo. De valor. Para ficar.
Talvez só precise de um pouco de ... Sim... Só preciso de um pouco de....
Wednesday, May 04, 2011
Por vezes...
É mais difícil fingir (que se está a dormir) de olhos fechados, do que com os olhos abertos... E os dias que não param de continuar....
Monday, May 02, 2011
Subscribe to:
Posts (Atom)