Antes, ainda se viam pessoas conhecidas nos carros ao lado do nosso. Rostos familiares, vagamente encontrados em memórias espontâneas, perdidos no tempo e encontrados ali mesmo, ao lado. Mesmo não conhecendo as pessoas de lado algum, elas pareciam pertencer aquele sítio. Faziam sentido ali. Pareciam ser parte daquele momento, instante, espaço.
Hoje em dia, parece que as pessoas são estranhas. Parece que há um país imenso que se cruza em todas as estradas, a qualquer hora do dia, em que o meu lugar de sempre me parece agora tão estranho. Talvez nunca antes tenha olhado para os outros ao meu lado com olhos de ver. Talvez o dia de hoje, sem luz intensa, sem delírios visuais, me tenha deixado ver. Talvez a hora fosse outra, não sei...
Talvez hoje não tivesse aquela (falsa?) sensação de segurança que me cobria e protegia. E que me possibilitava, mesmo sem olhar, ver - ou achar que via - quem estava ao meu lado e sabê-lo instantaneamente, que eram pessoas que faziam parte daquele cenário e que, portanto, não despoletavam alertas no meu organismo tranquilo. Pertenciam ali e ali deveriam estar. Tão simples quanto isso.
Mas quando sem esperar, dei por mim a olhar, vi que as coisas já não eram assim. Eu já não sou o mesmo. O meu país continua cada vez mais cinzento. Os carros mudaram. As memórias vão-se esvanecendo. E o que vejo já não é real. Ou a realidade já não é o que eu quero ver...
Mas quando sem esperar, dei por mim a olhar, vi que as coisas já não eram assim. Eu já não sou o mesmo. O meu país continua cada vez mais cinzento. Os carros mudaram. As memórias vão-se esvanecendo. E o que vejo já não é real. Ou a realidade já não é o que eu quero ver...
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