Eu julgava ser um universo em expansão, jovem, vigoroso e seguro.
Mas quando eu te encontrei, tu já eras uma galáxia proeminente, há muito estabelecida.
Naquela noite partilhei contigo o meu mundo e o meu universo ansiou englobar a tua constelação. Viajámos pela noite, numa dança de nebulas, qual gigantes gémeos num desejo partilhado em silêncios... os mesmos silêncios explosivos com os quais a criação do mundo foi feita.
Eu ouvi-te e tu ouvias-me.
No toque sentido, crescemos, juntos.
Apertei-te bem contra mim e senti que nos fundíamos num sonho de noite de verão.
Nessa noite tão cheia de estrelas...
Nessa noite em que me disseste que nunca te havias sentido tão vazia.
Senti o meu mundo desabar...
Senti que mil teorias de supercordas não conseguiriam explicar a recessão que ocorrreu no meu espaço.
Senti tudo a ficar escuro, tão apertado me senti que fiquei sem ar...
Naquela noite, deixaste-me e eu não fui capaz de ir atrás de ti e senti que, para sempre, te perdi.
Naquela noite em que fiquei mesmo sozinho, parecia que todo o cosmos não era suficiente para me esconder.
Senti que era de mim mesmo que fugia, numa corrida louca, num carro que não pararia de voar, por mil galáxias a devorar, para aquele sentimento esquecer.
Naquela noite aprendi que não bastava sentir-me um universo se não tivesse um coração, nem que fosse do tamanho de um cometa...
Monday, May 28, 2012
Monday, May 07, 2012
Dois mil passos de cavalo...
E eis que, em menos de nada, nada menos que dois mil passos de cavalo, dois mil em conjuntos de trote, troteados e galopados mil... Até breve, em breve seremos três mil!
Saturday, March 10, 2012
Let's get...
E eis que chega um sabor diferente com o ar... Um sabor de travo familiar, seco e aromatizado. Algo que remete logo para algo, algo bom e esperado.
A vida tem destas coisas, ora boas, ora menos boas. Digamos que, de uma forma muito simplista, as menos boas são inesperadas e, talvez por isso, uma valente treta. As boas, tanto poderão ser inesperadas, o que lhe dá aquele toque único, ou esperadas. Aguardadas. Ansiadas.
E de ânsias se vivem algumas vidas e se enchem alguns peitos.
Neste momento, tudo o que existe está a ser completamente abafado por algo que chegou do exterior. Mas que vem de dentro. Uma sensação boa e gostosa, que se alonga no acorde e se prolonga no olhar. E é tão bom abrir os olhos e ver que tudo isso nos invadiu e está lá fora à nossa espera. À espera de mim, mudado e desperto para as novas cores e sabores. Venha de lá esse calor, venham de lá esses cheiros diferentes.
Que de mares e marés também se enche o coração de muita gente.
A vida tem destas coisas, ora boas, ora menos boas. Digamos que, de uma forma muito simplista, as menos boas são inesperadas e, talvez por isso, uma valente treta. As boas, tanto poderão ser inesperadas, o que lhe dá aquele toque único, ou esperadas. Aguardadas. Ansiadas.
E de ânsias se vivem algumas vidas e se enchem alguns peitos.
Neste momento, tudo o que existe está a ser completamente abafado por algo que chegou do exterior. Mas que vem de dentro. Uma sensação boa e gostosa, que se alonga no acorde e se prolonga no olhar. E é tão bom abrir os olhos e ver que tudo isso nos invadiu e está lá fora à nossa espera. À espera de mim, mudado e desperto para as novas cores e sabores. Venha de lá esse calor, venham de lá esses cheiros diferentes.
Que de mares e marés também se enche o coração de muita gente.
Tuesday, February 14, 2012
Insurmountable destiny
A oito palmos de distância de um objectivo fica um gosto a saudade na boca, um sorriso num olhar curtido pelo Sol, uma resenha de amor à flor da pele e um par de lábios acompanhadas por aquele toque de sempre... Mil toques em mim, mil "eu"s em toques...
"What is there to know? / All this is what it is / You and me alone / Sheer simplicity"
Monday, February 13, 2012
waking life...
dormimos quando está tudo bem e esse é o nosso problema:
dormir quando tudo está bem, porque só assim conseguimos adormecer...
Monday, January 30, 2012
Um qualquer sentido de espírito...
Sabes... descobri agora que os meus olhos ainda conseguem ver muito. E que, por mais que eu achasse que a minha vista estava cansada, eu sei que conseguirei ver ainda muito mais...
Sabes... descobri agora que a idade de uma pessoa é, no fundo, a idade daquilo que os seus olhos viram... De todas as dores que sentiu, de todo o Sol que passou por entre as suas pestanas... quente, decapante...
Sabes... descobri agora que perdi. E que, por mais que eu tenha visto tanta coisa, nunca mais irei conseguir ver tudo. Porque há tanto que ( já ) não percebi, que não mais o resto irei conseguir perceber.
Mas sabes que mais Avô? Afinal de contas, tinhas razão. Porque o ver não é ter. Não é reter. Não é entender. O ver é, mais que tudo, sem olhos, ser. Sem olhos, poder. E com os olhos, merecer.
Sabes que mais? Eu fui tudo isso. E morrerei, a sê-lo.
Sabes... descobri agora que a idade de uma pessoa é, no fundo, a idade daquilo que os seus olhos viram... De todas as dores que sentiu, de todo o Sol que passou por entre as suas pestanas... quente, decapante...
Sabes... descobri agora que perdi. E que, por mais que eu tenha visto tanta coisa, nunca mais irei conseguir ver tudo. Porque há tanto que ( já ) não percebi, que não mais o resto irei conseguir perceber.
Mas sabes que mais Avô? Afinal de contas, tinhas razão. Porque o ver não é ter. Não é reter. Não é entender. O ver é, mais que tudo, sem olhos, ser. Sem olhos, poder. E com os olhos, merecer.
Sabes que mais? Eu fui tudo isso. E morrerei, a sê-lo.
Um Verão diferente...
O Verão invade-me a retina... Quanta dor, numa memória forçada.
Dor de cabeça, imagens de Verão, aromas e música...
O corpo treme num delírio febril, jogado ao ardor de um frio nórdico que a mente projecta e o cérebro sente na pele... como sua... Sei ter feito parte de tudo isto... Só não sei quando...
Dor de cabeça, imagens de Verão, aromas e música...
O corpo treme num delírio febril, jogado ao ardor de um frio nórdico que a mente projecta e o cérebro sente na pele... como sua... Sei ter feito parte de tudo isto... Só não sei quando...
Monday, January 09, 2012
Thursday, January 05, 2012
Tom(ê)to, tom(á)to....
Passamos uma longa vida a pôr-nos doentes e uma curta morte a pôr-nos saudáveis...
Monday, October 24, 2011
Got viTIMEne C?
O tempo é um pouco como uma peça de fruta: quando até nos está a saber bem, falta sempre mais um bocadinho. Quando temos que sobre, fica sempre a apodrecer na prateleira...
Devíamos começar a congelar o tempo, como fazem nos supermercados hoje em dia...
Devíamos começar a congelar o tempo, como fazem nos supermercados hoje em dia...
Monday, September 19, 2011
O dia em que o padeiro fechou.
Escuro. Apenas um vazio escuro. Era tudo quanto conseguia ver, por entre os grãos de poeira ensolarados da montra. Prateleiras vazias de pão, mas, como sempre, cheias da característica neve trigueira. Os sacos brancos, de uma alvura desconhecida deste tempo presente, a adornar os agora enormes cestos de viga.
Um cheiro a lembrança ainda paira no ar cá fora. Mas nada mais lembra a pão lá dentro. Aquela magia que alimenta, aqueles sabores que salvam almas perdidas em náufrago. Aquelas memórias de um ouro macio a derreter lentamente, como um fim de dia sobre uma estrada paciente....
Tudo isto desaparece lentamente. Pedaço a pedaço. Mas sem aquela insubstituível névoa que emerge a ferver quando abria a minha alma a um acto social tão sagrado e familiar, como o que tantas vezes me fez acordar a hora inumanas, a seguir em directas só com objectivo, a partilhar ideias, emoções, segredos...
"Terá acontecido algo?" Sem resposta, tento mais uma vez. Numa teimosia saudável, tão humana, tão minha. Sem sucesso. De relance, tento enganar a sombra com um soslaio mais rápido que a velocidade da cusquice, mas nada, novamente.
A manhã perde a alegria com esta constatação. O pequeno-almoço perde dimensão. O dia perde luz. Bom, não é que perca a luminosidade, como parece acontecer em certas cidades onde as paredes absorvem a luz e transformam-na em sombra. Não. É mais como se a própria luz perdesse a sua alegria, as suas cores. A sua dimensão, torna-se mais "achatada". Mas sem se perder de si própria. Só de mim. Um pouquinho. Só...
O regresso, agora menos marcado por aquela ânsia tão deliciosa e matinal, faz-se sem sobressaltos. Um pouco mais contemplativo. Não sei bem explicar porquê. "Faz-se", por assim dizer.
E, num momento indistinto, tudo parece ter mudado no mundo. E o mundo parece ter decidido mudar sem nós.
Foi assim que me senti, nesse dia.
No dia em que o padeiro fechou.
Um cheiro a lembrança ainda paira no ar cá fora. Mas nada mais lembra a pão lá dentro. Aquela magia que alimenta, aqueles sabores que salvam almas perdidas em náufrago. Aquelas memórias de um ouro macio a derreter lentamente, como um fim de dia sobre uma estrada paciente....
Tudo isto desaparece lentamente. Pedaço a pedaço. Mas sem aquela insubstituível névoa que emerge a ferver quando abria a minha alma a um acto social tão sagrado e familiar, como o que tantas vezes me fez acordar a hora inumanas, a seguir em directas só com objectivo, a partilhar ideias, emoções, segredos...
"Terá acontecido algo?" Sem resposta, tento mais uma vez. Numa teimosia saudável, tão humana, tão minha. Sem sucesso. De relance, tento enganar a sombra com um soslaio mais rápido que a velocidade da cusquice, mas nada, novamente.
A manhã perde a alegria com esta constatação. O pequeno-almoço perde dimensão. O dia perde luz. Bom, não é que perca a luminosidade, como parece acontecer em certas cidades onde as paredes absorvem a luz e transformam-na em sombra. Não. É mais como se a própria luz perdesse a sua alegria, as suas cores. A sua dimensão, torna-se mais "achatada". Mas sem se perder de si própria. Só de mim. Um pouquinho. Só...
O regresso, agora menos marcado por aquela ânsia tão deliciosa e matinal, faz-se sem sobressaltos. Um pouco mais contemplativo. Não sei bem explicar porquê. "Faz-se", por assim dizer.
E, num momento indistinto, tudo parece ter mudado no mundo. E o mundo parece ter decidido mudar sem nós.
Foi assim que me senti, nesse dia.
No dia em que o padeiro fechou.
Friday, September 16, 2011
Estrada de fogo
E hoje, uma vez mais, dei por mim a descer essa estrada de fogo. Sentindo o toque metálico como se fosse descalço ... Quente. Pegajoso. Doloroso. Viciante. Agora faz parte de mim. Ou antes - penso - farei eu parte "dele". Ele? Entranha-se em mim, gera-se um desapego, uma completa abnegação do "eu" e entrego-me a um reflexo. A uma miragem etérea, vinda bem do fundo das minhas lembranças, existência incerta, gerada no ar aquecido pelos tempos... Desertos, oásis sem fim...
O gotejar do meu suor acorda-me. Desperta-me deste marasmo delicioso, onde tantas vezes me deixo ir. A descer uma estrada de fogo. Onde sinto o seu suave toque metálico que queima e faz parte de mim.
O gotejar do meu suor acorda-me. Desperta-me deste marasmo delicioso, onde tantas vezes me deixo ir. A descer uma estrada de fogo. Onde sinto o seu suave toque metálico que queima e faz parte de mim.
Sexopolis
Olhando para a cidade, deste ponto mais elevado, consegui perceber os seus tons dourados, de semelhança gémea às lembranças outonais... Da estrada elevava-se um som, um rumor... Daquele tipo que desperta sentimentos, que levam a outros sentimentos e lembranças de um sexo animal... O rubor começa a fervilhar, ao de leve na minha pele. E esta agora já não é minha. É uma pele, outra que não a que tenho. É minha, mas não só.... É uma estrada, daquelas que nos conduz a sonhos, memórias... Num serpentear que me faz embala, entorpece, mas faz vibrar... Num êngodo de curva, num manejo de corpos. O corpo curvado ao desejo dos tempos... Escuta... http://youtu.be/a93_5AXZx18 Ele não pára por aqui.... Eleva-se. E volta a descer... Até nós. De novo. A nós o que é de todos. A todos o que sinto agora... E o que sinto é o meu corpo a retorcer-se. A minha mandinga vem ao de cima, o meu rebolejo anseia por se libertar... Deliro numa visão de fogo, suo um calor que vem de sempre, de dentro... Penso se não o terei herdado de uma fogosa noite, perdida lá longe no éter de uma celebração bem libertina. Pergunto-me se não será reflexo de um fulgor de sexo, que desce geneticamente nas longas e sinuosas escadas de uma muito particular construção geneticamente assombroso, ao bom estilo de Gaudi ou de uma tão fornicada Guernica. Lembranças de guerra... guerras de suor, de sangue... e muita, mas muita degustação corporal... Que sentimento de posse! Que vingança mais gulosa, com tão doce-azedo travo a vergonha... Mil línguas, num lânguido e manipuloso sibilar de curvas... de altos... de baixos... tanto por fora... e bem, bem dentro...... Mil suores, mil fluídos, mil engolidos, mil.... Que cor. Que vibrar. O reflexo do suor. O teu olhar.
É uma estrada. Uma estrada com um rumor que emerge. Um rumor que é dourado, vermelho, que é sangue. E que faz lembrar... http://youtu.be/rg3IY2A_f70 O Outono chegou.
É uma estrada. Uma estrada com um rumor que emerge. Um rumor que é dourado, vermelho, que é sangue. E que faz lembrar... http://youtu.be/rg3IY2A_f70 O Outono chegou.
Tuesday, September 06, 2011
Prenuncio de chuva...
Antes, ainda se viam pessoas conhecidas nos carros ao lado do nosso. Rostos familiares, vagamente encontrados em memórias espontâneas, perdidos no tempo e encontrados ali mesmo, ao lado. Mesmo não conhecendo as pessoas de lado algum, elas pareciam pertencer aquele sítio. Faziam sentido ali. Pareciam ser parte daquele momento, instante, espaço.
Hoje em dia, parece que as pessoas são estranhas. Parece que há um país imenso que se cruza em todas as estradas, a qualquer hora do dia, em que o meu lugar de sempre me parece agora tão estranho. Talvez nunca antes tenha olhado para os outros ao meu lado com olhos de ver. Talvez o dia de hoje, sem luz intensa, sem delírios visuais, me tenha deixado ver. Talvez a hora fosse outra, não sei...
Talvez hoje não tivesse aquela (falsa?) sensação de segurança que me cobria e protegia. E que me possibilitava, mesmo sem olhar, ver - ou achar que via - quem estava ao meu lado e sabê-lo instantaneamente, que eram pessoas que faziam parte daquele cenário e que, portanto, não despoletavam alertas no meu organismo tranquilo. Pertenciam ali e ali deveriam estar. Tão simples quanto isso.
Mas quando sem esperar, dei por mim a olhar, vi que as coisas já não eram assim. Eu já não sou o mesmo. O meu país continua cada vez mais cinzento. Os carros mudaram. As memórias vão-se esvanecendo. E o que vejo já não é real. Ou a realidade já não é o que eu quero ver...
Mas quando sem esperar, dei por mim a olhar, vi que as coisas já não eram assim. Eu já não sou o mesmo. O meu país continua cada vez mais cinzento. Os carros mudaram. As memórias vão-se esvanecendo. E o que vejo já não é real. Ou a realidade já não é o que eu quero ver...
Friday, July 29, 2011
O jardim e o gelado.
Tenho saudades dos jardins onde a minha imaginação cresceu. Lembro-me perfeitamente como se o tivesse imaginado ontem: uma retrosaria a céu aberto, de montra da cor do cheiro do ar. Do ar que passa por entre a frágil folhagem que robusta aguenta a melancolia das cores do Outono, do Outono aquela luz que perpassa as crianças que brincam alegres e descontraídas na estrada. Da estrada que calma aguarda as mães que chegam a casa aos fins de tarde, em banhos de Sol moderado no alcatrão curtido pelas poeiras dos tempos, em carros de sonho para corações imaculados pela verdade. De verdades que não chegam bruscas e tempestivas, de pós que aquecem e não se esquecem, dos cheiros e das cores que realmente são.
Os prédios também o são. Verdades altivas e distorcidas pelas ilusões geométricas de linhas paralelas a inclinarem-se precipitada e apaixonadamente para um infinito já ali à frente. Protectoras memórias que em U se juntam, em uníssono escutam e em utópicas partilhas entram. As árvores, sempre presentes, sempre sobranceiras à memória que acolhem dos Sóis que nela giram e iluminam, acompanham os prédios; os prédios que são dessa cor que não sei bem descrever... um tom que se esquece, não por falta de relevância; mas porque as memórias boas são sempre assim - não conseguimos pensar com cor, nem com cheiros, mas lá que eles nos conseguem fazer pensar, lá disso ninguém duvida...
Os barulhos ecoam imaginados num tamborilar de aves, insectos, ares, estrelas e pormenores impossíveis sem fim... As luzes dançam nos tectos da imaginação, projectando nesse céu tão plano, quanto real, de azul sarampeiro profundo, onde coexistem estrelas, neurónios e astros, filmes da infância, de uma transparência a roçar o limite de visibilidade dos olhos da alma...
Passei por esses jardins ontem, olhei e resolvi entrar: entrei nessa loja que faz sonhar, escolhi uma memória gostosa para comprar e sentei-me no banco do jardim a apreciá-la, qual gelado imaginário numa quente noite de Verão.
Thursday, July 28, 2011
Cores primárias
O meu país está cinzento. Com manchas de outros cinzas. 10%. 60%. 30%. As sombras já não o são e não passam de uma recordação. Quem manchou tão lindo preto de uma ligeireza de cão?
O meu país está molhado. Lágrimas ou lá que é. Ou algo mais. De suor é que não. Só lágrimas. Ou então, um suor muito triste. Não, deverão ser lágrimas concerteza. Concerteza que serão!
Serão? Lágrimas, isto é? O que é uma lágrima? A lágrima só o é quando sai do olho? Até lá, já o será? E depois, o que é?
O meu país está diferente. Cheio de gente. Sei lá porque. Muita gente. Fazem barulho. E criam entulho. Daquele, do intelectual. "Coisa e tal". Disso não sei muito, porque não tenho. Sou muito, muito banal.
O meus país está almariado. Pobre coitado. Deve ser do cinto, que aperta até ao osso. Arre cão, que não te dou! Já tiveste muito que comer. Põe-te a andar, senão vais ver!
O meu país cá continua. E eu na roda dentada, à bulha. Sempre a encher. Sempre a complicar. Quem disse que a Rainha ia nua?
O meu país já não "s'alavanta". Mas pra quê? É prá Santa? É que os da casa não fazem milagres, mas que lá os há e muitos há, os alarves.
O meu país já não encanta. E porque é que não há nada que eu consiga querer fazer para colorir isso?
Mas ao menos, o meu país assim já não ilude. E eu já não sonho. Viajo.
O meu país está molhado. Lágrimas ou lá que é. Ou algo mais. De suor é que não. Só lágrimas. Ou então, um suor muito triste. Não, deverão ser lágrimas concerteza. Concerteza que serão!
Serão? Lágrimas, isto é? O que é uma lágrima? A lágrima só o é quando sai do olho? Até lá, já o será? E depois, o que é?
O meu país está diferente. Cheio de gente. Sei lá porque. Muita gente. Fazem barulho. E criam entulho. Daquele, do intelectual. "Coisa e tal". Disso não sei muito, porque não tenho. Sou muito, muito banal.
O meus país está almariado. Pobre coitado. Deve ser do cinto, que aperta até ao osso. Arre cão, que não te dou! Já tiveste muito que comer. Põe-te a andar, senão vais ver!
O meu país cá continua. E eu na roda dentada, à bulha. Sempre a encher. Sempre a complicar. Quem disse que a Rainha ia nua?
O meu país já não "s'alavanta". Mas pra quê? É prá Santa? É que os da casa não fazem milagres, mas que lá os há e muitos há, os alarves.
O meu país já não encanta. E porque é que não há nada que eu consiga querer fazer para colorir isso?
Mas ao menos, o meu país assim já não ilude. E eu já não sonho. Viajo.
No limiar do tempo. No limiar da lembrança.
Agora que (não) penso nisso, fico com a sensação nítida de que o único esforço que eu sempre fiz, o que eu sempre quis mesmo, foi ficar na memória das minhas relações pessoais. E lá permanecer. Apenas.
Tantas vezes preferi desaparecer no meio da noite, como se fosse comprar um maço de cigarros repentino. Como se isso me permitisse nunca mais lá voltar, aquele sufoco que de mim em mim se parecia tornar...
Tantas vezes a neblina das insólitas madrugadas de lá foi minha cúmplice. Tantas vezes me devotei a horas imensas a “imensificar a infinitesimez" desse sentimento, que eu queria que deixasse de existir...
Apenas fugir. Para desaparecer. Sem deixar rasto. Qualquer amostra de rasto emocional, que fosse possível seguir... Tentando sempre não magoar ninguém, fazendo a coisa da forma mais indolor e anestesiada possível. Se é que isso existe.
Agora que penso nisso, talvez tentasse sempre evitar magoar-me apenas a mim, e a mim só.
Só eu. Sim, eu sei...
Agora que (não) penso nisso, fico mesmo com a sensação que tantas vezes me senti egoisticamente ultrapassado nessas memórias (de outros) por outros.
Ultra. Passado. Conotação 1. Passado. Conotação 2. E agora que pensei mesmo nisto, o passado deve ficar no passado. E deve mesmo ser ultrapassado. Porque caso contrário não faz bem e, acto contínuo, faz mal. E tudo o que faz mal deve ser evitado. Não?!
Bem, no meu caso deveria ser "ficar resolvido". Curado.
Dizem que o tempo cura tudo. Mas eu temei em continuar a agarrar com todas as minhas forças o volante desse lento carro que também ele teimava em continuar tresloucado nessa tortuosa vida ladeada de curvas e contra-esperanças, minada de lombas e memórias de violenta brandura, constantemente ultrapassado por aqui e por acolá, por aquela e outra memória também...
Mesmo tratando-se só de memórias, mesmo eu não passando só de uma memória em lá, mesmo sendo tudo aquilo que eu sempre quis, tudo aquilo porque eu sempre me esforcei, porque me custou tanto ao sentir que era substituído por outras memórias, estradas mais recentes, afinal de contas, o natural curso das coisas? Porque abalou tanto a minha estabilidade, a confiança na minha condução das minhas atitudes e actos, sentir que não fui capaz de lá me manter, mesmo que fisicamente houvesse feito tudo o que podia para fugir, ao que se tornara real, para esse plano metafísico? Porque me parecem as minhas próprias emoções tão contraditórias, em si?
Porque terei ficado tão perturbado com a substituição desse meu cantinho em lá por essa actualização do mapa sensorial onde se gravam as emoções e os sentimentos?
E pergunto isto, especialmente porque as memórias são tão indeléveis quanto a capacidade que temos de nos agarrar a elas. Força essa que esmorece com o tempo e com a chegada de outras tantas memórias, mais fortes e cativantes... E porque mais cedo ou mais tarde, algo muda. E algo se perde. Para sempre... Qual rascunho mal desenhado e apagado, deixando apenas uma marca de algo. Indefinido. Perdido por ali. Mas nunca lá...
Afinal de contas, agora que já não me lembro de como se pensa nisso, de que nos serve sofrer agarrados a algo, que até já nos esquecemos o que era? Se o que eventualmente se conserva é a memória muscular, essa elegante maneira que o corpo tem de deixar bem marcada a forma de fazer algo, porque continuamos, então, em piloto automático? Apenas porque o nosso corpo nos guia cegamente por entre acto mecânicos para conseguir ter algo feito, sem sentirmos bem o porque, apenas porque sentimos inconscientemente que tem que ser assim...
Porque é que aqui não conduzo eu, porque me leva agora o meu corpo, num caminho sem volante, nem retrovisor? Sem lombas, nem questões? E de que me serve tudo isso, e de me serviu tanto daquilo, se de uma forma ou de outra, todos caminhamos para Alzheimer? De que nos serve viver?
Talvez viver seja também em si uma memória muscular... e talvez o façamos porque é algo que o nosso corpo se recorda de como fazer, exemplar num rigor ímpar na lembrança, qual máquina programada do início ao fim da eternidade - e de volta ao início -, mesmo quando a mente já não se lembra do motivo porque o faz...
Tantas vezes preferi desaparecer no meio da noite, como se fosse comprar um maço de cigarros repentino. Como se isso me permitisse nunca mais lá voltar, aquele sufoco que de mim em mim se parecia tornar...
Tantas vezes a neblina das insólitas madrugadas de lá foi minha cúmplice. Tantas vezes me devotei a horas imensas a “imensificar a infinitesimez" desse sentimento, que eu queria que deixasse de existir...
Apenas fugir. Para desaparecer. Sem deixar rasto. Qualquer amostra de rasto emocional, que fosse possível seguir... Tentando sempre não magoar ninguém, fazendo a coisa da forma mais indolor e anestesiada possível. Se é que isso existe.
Agora que penso nisso, talvez tentasse sempre evitar magoar-me apenas a mim, e a mim só.
Só eu. Sim, eu sei...
Agora que (não) penso nisso, fico mesmo com a sensação que tantas vezes me senti egoisticamente ultrapassado nessas memórias (de outros) por outros.
Ultra. Passado. Conotação 1. Passado. Conotação 2. E agora que pensei mesmo nisto, o passado deve ficar no passado. E deve mesmo ser ultrapassado. Porque caso contrário não faz bem e, acto contínuo, faz mal. E tudo o que faz mal deve ser evitado. Não?!
Bem, no meu caso deveria ser "ficar resolvido". Curado.
Dizem que o tempo cura tudo. Mas eu temei em continuar a agarrar com todas as minhas forças o volante desse lento carro que também ele teimava em continuar tresloucado nessa tortuosa vida ladeada de curvas e contra-esperanças, minada de lombas e memórias de violenta brandura, constantemente ultrapassado por aqui e por acolá, por aquela e outra memória também...
Mesmo tratando-se só de memórias, mesmo eu não passando só de uma memória em lá, mesmo sendo tudo aquilo que eu sempre quis, tudo aquilo porque eu sempre me esforcei, porque me custou tanto ao sentir que era substituído por outras memórias, estradas mais recentes, afinal de contas, o natural curso das coisas? Porque abalou tanto a minha estabilidade, a confiança na minha condução das minhas atitudes e actos, sentir que não fui capaz de lá me manter, mesmo que fisicamente houvesse feito tudo o que podia para fugir, ao que se tornara real, para esse plano metafísico? Porque me parecem as minhas próprias emoções tão contraditórias, em si?
Porque terei ficado tão perturbado com a substituição desse meu cantinho em lá por essa actualização do mapa sensorial onde se gravam as emoções e os sentimentos?
E pergunto isto, especialmente porque as memórias são tão indeléveis quanto a capacidade que temos de nos agarrar a elas. Força essa que esmorece com o tempo e com a chegada de outras tantas memórias, mais fortes e cativantes... E porque mais cedo ou mais tarde, algo muda. E algo se perde. Para sempre... Qual rascunho mal desenhado e apagado, deixando apenas uma marca de algo. Indefinido. Perdido por ali. Mas nunca lá...
Afinal de contas, agora que já não me lembro de como se pensa nisso, de que nos serve sofrer agarrados a algo, que até já nos esquecemos o que era? Se o que eventualmente se conserva é a memória muscular, essa elegante maneira que o corpo tem de deixar bem marcada a forma de fazer algo, porque continuamos, então, em piloto automático? Apenas porque o nosso corpo nos guia cegamente por entre acto mecânicos para conseguir ter algo feito, sem sentirmos bem o porque, apenas porque sentimos inconscientemente que tem que ser assim...
Porque é que aqui não conduzo eu, porque me leva agora o meu corpo, num caminho sem volante, nem retrovisor? Sem lombas, nem questões? E de que me serve tudo isso, e de me serviu tanto daquilo, se de uma forma ou de outra, todos caminhamos para Alzheimer? De que nos serve viver?
Talvez viver seja também em si uma memória muscular... e talvez o façamos porque é algo que o nosso corpo se recorda de como fazer, exemplar num rigor ímpar na lembrança, qual máquina programada do início ao fim da eternidade - e de volta ao início -, mesmo quando a mente já não se lembra do motivo porque o faz...
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