Assisti a tudo desde o início. Do fim (morbidamente)... Estive lá com todos. Umas senhoras, encharcadas de penúria choravam, desalmadamente, um triste e longo som de perda irremidiável, anos que não voltarão nunca mais, perdidos entre memórias a preto e branco que desaparecerão irremiadiavelmente. Porque é assim a que tudo isto se resume: a algo irremediável... Recordo hoje apenas em duas cores todo o que se passou. Mas os sentimentos, esses adquiriam uma dimensão, um peso, algo quase palpável... Retorno a mim perdido que estava nas minhas viagens internas. É tudo tão simples. Preto. Branco. Tristeza. Morte. "Ele partiu!", "...deixem-me ir com ele... eu quero ir com ele... deixem-me!!!" Alguém a segura, tantas lágrimas que caem em cima do corpo gélido e rijo. As cores abandonaram-no há muito. Toda a vivacidade parece resumir às cores das maças do rosto, ao sorriso quente, ao engelhar das pregas de pele, das rugas, das covinhas das bochechas... tanta cor, tão simples, há tanto partiste. Mas o físico continua ali. Tudo o resto paira no ar, triste e escuro como carvão...
Dali partiu para a terra. Esta recebeu-o em seu leito, delicada e aconchegante como o baloiçar de uma cadeira numa tarde de outono... para lá e para cá... Mas dali só seria para lá... para ficar, no frio esquecer de uma vida. Eu receava isso. Toda a gente jura amor eterno, mas convenhamos, por mais que se ame alguém tudo muda em nós ao longo de uma vida. É quase como tirar uma fotografia a uma paisagem que se altera diariamente, é impossível recordar por mais que se queira... Será? Há vidas queimadas na nossa vida, amores gravados no nosso coração... Aquele seria para ficar. Todos os dias te recordo. Todos os dias te recordarei. E por mais que passe sem pensar em ti, sei, mas sei tanto lá no fundo da minha existência que ainda pensas todos os dias em mim, que fazes a terra ficar com a essência da tua pessoa, com o brilho que encantava tudo e todos que passavam por ti. Toda a gente te perdeu de vista, o teu brilho desapareceu.. Mas caramba, cada vez mais os meus olhos me falham e tu... tu continuas lá, oculto, forte, eu. Tu és-me e eu sou-te. Tantas vezes me viste cair e sempre me deixaste levantar e continuar a luta. E agora estou perante ti, olho para um vazio tentando encontrar-te numa pedra fria que te resume indignamente, incompleto escárnio quase propositado a quem tu eras, a tudo aquilo que representaste, representas, representarás. "As flores que te trago são apenas uma desculpa pelo desejo que tinha de te vir ver, há tanto nascido mas só agora assumido perante ti. Vem, gostava de conversar. O vento levanta-se e gostaria de o sentir contigo, falando como se ontem fosse para sempre e o para sempre viesse também conversar connosco. Vem. Não percamos a oportunidade" Esta, todas, sempre contigo.
"Amo-te alguma vez te disse?"
1 comment:
... (leia-se "sem palavras").
sente o Vento.
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