Monday, September 26, 2005

Voltar...

Ao ninho. É tão bom. Poder voltar.

Sei que de lá saí, a minha vida diz-me isso todos os dias. Tu dizes-me isso todos os dias. "Já não te conheço", "não sei bem quem és". Todos os dias. Todos os dias isso ecoa pela minha cabeça... Mas por mais que tudo isso me custe ouvir, me fira, me faça sentir ainda mais perdido - eu sei que não percebem, mas gostava... -, é sempre tão bom voltar. A ti. Por mais tempo que esteja longe, mesmo não sentindo que seja necessário teres-me, por mais que inconscientemente me queira afastar, tu estás sempre lá, à minha espera... Sempre.

Quando volto há quase sempre chatices. Eu e eles, discutimos. Nós brigamos. Já quase que faz parte de uma rotina cega e surda, como se tudo aquilo justificasse algo em falta, tentando compensar algo que perdemos há muito e receamos admitir. Como crianças. Receamos. Mas há algo de mágico também. Muito mágico. Faz-me repensar no meu canto, sentir-me ainda mais aconchegado no meio das frias noites, dos longos dias, numa redoma contra a depressão que fuça a minha resistência, num esforço eterno para me abalar. Sinto-me tão bem. Em ti. E sabes que mais? Pelo-me de medo por te recear perder! Todinho! Sinto-me tremer, como se tudo o que eu alguma vez fui (se alguma vez o aconteceu) se sentisse abalar... O que seria de mim sem ti? O que seria de mim sem o meu ninho, o meu cantinho longe do nada, perto do tudo que tantas vezes falta me faz? Porque é que só aí me sinto eu??! Se te quebrasses meu tesouro , acho que iria ficar sem o aconchego que ainda me suporta, que resistirá à passagem do tempo e perderei a única coisa que possivelmente me conseguirá definir enquanto eu, mesmo depois de isso já ter sido varrido da minha memória... da minha existência. Sinto-me a perder-me de mim mesmo... escapa-se tudo o que sou por entre mim mesmo, sem nada poder fazer... Luto. Por vezes. Perco. Sempre.

E no final, quando já nada de mim restar, estarás lá tu como sempre estiveste, expectante, na ânsia de me ver voltar e de me acolheres... sim, me acolheres, a mim... Obrigado...

Tuesday, September 13, 2005

Olá.... Bruno 13-09-2005

Assisti a tudo desde o início. Do fim (morbidamente)... Estive lá com todos. Umas senhoras, encharcadas de penúria choravam, desalmadamente, um triste e longo som de perda irremidiável, anos que não voltarão nunca mais, perdidos entre memórias a preto e branco que desaparecerão irremiadiavelmente. Porque é assim a que tudo isto se resume: a algo irremediável... Recordo hoje apenas em duas cores todo o que se passou. Mas os sentimentos, esses adquiriam uma dimensão, um peso, algo quase palpável... Retorno a mim perdido que estava nas minhas viagens internas. É tudo tão simples. Preto. Branco. Tristeza. Morte. "Ele partiu!", "...deixem-me ir com ele... eu quero ir com ele... deixem-me!!!" Alguém a segura, tantas lágrimas que caem em cima do corpo gélido e rijo. As cores abandonaram-no há muito. Toda a vivacidade parece resumir às cores das maças do rosto, ao sorriso quente, ao engelhar das pregas de pele, das rugas, das covinhas das bochechas... tanta cor, tão simples, há tanto partiste. Mas o físico continua ali. Tudo o resto paira no ar, triste e escuro como carvão...

Dali partiu para a terra. Esta recebeu-o em seu leito, delicada e aconchegante como o baloiçar de uma cadeira numa tarde de outono... para lá e para cá... Mas dali só seria para lá... para ficar, no frio esquecer de uma vida. Eu receava isso. Toda a gente jura amor eterno, mas convenhamos, por mais que se ame alguém tudo muda em nós ao longo de uma vida. É quase como tirar uma fotografia a uma paisagem que se altera diariamente, é impossível recordar por mais que se queira... Será? Há vidas queimadas na nossa vida, amores gravados no nosso coração... Aquele seria para ficar. Todos os dias te recordo. Todos os dias te recordarei. E por mais que passe sem pensar em ti, sei, mas sei tanto lá no fundo da minha existência que ainda pensas todos os dias em mim, que fazes a terra ficar com a essência da tua pessoa, com o brilho que encantava tudo e todos que passavam por ti. Toda a gente te perdeu de vista, o teu brilho desapareceu.. Mas caramba, cada vez mais os meus olhos me falham e tu... tu continuas lá, oculto, forte, eu. Tu és-me e eu sou-te. Tantas vezes me viste cair e sempre me deixaste levantar e continuar a luta. E agora estou perante ti, olho para um vazio tentando encontrar-te numa pedra fria que te resume indignamente, incompleto escárnio quase propositado a quem tu eras, a tudo aquilo que representaste, representas, representarás. "As flores que te trago são apenas uma desculpa pelo desejo que tinha de te vir ver, há tanto nascido mas só agora assumido perante ti. Vem, gostava de conversar. O vento levanta-se e gostaria de o sentir contigo, falando como se ontem fosse para sempre e o para sempre viesse também conversar connosco. Vem. Não percamos a oportunidade" Esta, todas, sempre contigo.

"Amo-te alguma vez te disse?"

Parte...

As coisas têm uma maneira engraçada de se resolverem por si mesmas... Adeus. Tudo o que é meu fica contigo.

Thursday, September 08, 2005

... que corra o Vinho!

O sol não abandonou a expectativa... plantada à espera da chuva, receava mais uma vez a solidão. Mas a noite caiu calma e serena.. As vozes surgiram, o vento agitou-se, as ruas encheram-se e a vida saiu do seu refúgio. Recomeçava a tradição, o alegre folclore de uma saudosa infância revivida naquele preciso momento. As luzes. Os cheiros. As caras. As lembranças... tudo continuava ali onde eu estava, mais uma vez, como sempre talvez. Mas mais uma vez não importava. Bastava-me estar ali, onde aliás eu queria estar.

Conversas. Sorrisos. Rostos conhecidos. O habitual para aquela altura do ano, tão particular para tantos corações. Moscatel. Vizinhos, famílias, de tudo um pouco se vê como sempre, por ali, por acolá. A noite começava e já eu sabia a felicidade que se avizinhava... Obrigado por teres vindo. Adorei. Adorámos. Uma vez mais fomos felizes. Todos. Mais uma vez, talvez...